terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Amor e tormento


Adaptação discute o ciúme da relação.
"Paixão é o ingrediente da segurança", diz personagem.


Malu de bicicleta (idem/ 2010/ Brasil/ 96min.)
Direção: Flávio Tamberllini
Roteiro: Marcelo Rubens Paiva
Elenco: Marcelo Serrado, Fernanda de Freitas, Marjorie Estiano, Otavio Martins, Daniela Galli, Maria Manoella, Marcos Cesana

Baseado no livro homônimo do escritor Marcelo Rubens Paiva – também responsável pelo roteiro do longa – Malu de Bicicleta é uma espécie de Dom Casmurro moderno para jovens. A própria protagonista, Fernanda de Freitas, revelou em entrevista que leu Dom Casmurro (Machado de Assis) antes mesmo de ler a obra adaptada a pedido do próprio diretor.

Luiz é um empresário paulista que trabalha na noite. Solteiro convicto coleciona casos amorosos e também papéis com nomes e números de telefone. Sua sede de conquista faz com que esse “passa tempo” se torne mais complexo. Depois da reação violenta de uma garota descartada, Luiz decide passar um tempo no Rio de Janeiro. Lá, conhece a Malu do título e esse relacionamento vai mudar a sua maneira de encarar o romance. Mas vai também introduzi-lo no confuso mundo da posse e do ciúme.

O filme é conduzido de maneira leve através de uma montagem dinâmica. Outro fator que contribui com essa leveza são as pitadas de comédia introduzidas através do bom humor do roteiro que ajudam a suavizar o tema principal, o ciúme. O fato de o longa ser narrado em primeira pessoa pelo próprio Luiz que conversa com o espectador como se falasse com um amigo é mais um aspecto que ajuda a produzir esse resultado.

O elenco funciona muito bem. A química entre os dois protagonistas merece destaque especial. Os dois mal se conheciam antes das filmagens, mas isso não foi um problema. Na tela ambos conseguem dar vida aos personagens, evitam a caricatura e funcionam muito bem juntos. Ela está ótima como uma moça misteriosa e independente. Já ele consegue manter tanto o bom humor como a insegurança e o tormento causado pela posse.

Assim como acontece em Dom Casmurro, Malu de Bicicleta é apresentado sob o ponto de vista do protagonista masculino. Dessa maneira, o espectador acompanha a trajetória do empresário, mas não tem certeza do quanto daquilo que o perturba é real e o quanto é fruto da sua imaginação uma vez que não tem acesso às demais perspectivas da história.

Apesar da tentativa de traçar um retrato do ciúme e de como esse sentimento pode nascer e corroer uma relação, o filme não aprofunda o tema. Naturalmente a ideia não é exatamente elaborar uma tese sobre o assunto através de uma comédia romântica, mas a partir do momento em que se prolonga nele sem passar de fato para outro nível, torna-se um pouco longo e cansativo.

Outro aspecto negativo é que, em determinados momentos, o filme se torna um tanto forçado através de uma ação que se mostra de maneira irreal. Um exemplo disso é a cena em que Luiz é atacado pela já citada garota descartada. Nela, a moça aponta uma faca para o protagonista. Sem aviso algum (vale ressaltar também que nenhum dos dois estava gritando e que tudo isso se passa em um sala localizada em uma boate. Ou seja, havia bastante barulho do lado de fora) três funcionários do local chegam para ajudar o rapaz. Tudo se passa de maneira rápida e não muito crível, mas não botam tudo a perder.

Malu de bicicleta apresenta alguns deslizes, mas não decepciona. É interessante e bem acabado. Vale ressaltar que o filme foi um dos destaques do 3º festival de Paulínea que aconteceu no ano passado. Levou os prêmios de direção, ator e atriz.
Marcelo Rubens Paiva comentou suas experiências na produção no seu blog.

Mas a relação do escritor com o cinema não acaba por aqui. Antes da adaptação de Malu, outro livro seu foi levado ás telonas: Feliz ano velho. E ainda há três produções em andamento: E aí, comeu? está planejado para ser filmado esse ano; A segunda vez que te conheci, último romance escrito por Marcelo, também será adaptado e, por fim, No retrovisor (romance levado aos palcos em 2007 pelo próprio Marcelo Serrado) também vai virar filme.

Agora? The Beatles e The Smiths.

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