terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Da virada

Esse ano eu descobri que nem todo mundo que você considera família é, de fato, sua família.
Que nem todas as pessoas que você trata como um irmão vão além de palavras polidas e vazias. Muitas vezes nem alcançarão um telefone.
Descobri que parasitas existem. E que são dissimulados.
Descobri também que a verdade, embora pareça simples, é impossível para muitos. Em especial aos "artistas" da dissimulação.
Mas descobri também que se você acredita e busca a já citada verdade e consegue se manter real, o amor vai se manifestar. Ainda que não seja por meio de quem você pensou ser um irmão. Às vezes, inclusive, manifestar-se-á sem que você espere.
Esse ano encontrei também um amor para a vida toda, o teatro. Que veio complementar o que o cinema sempre me deu.
Com o teatro descobri a energia mais leve também.
Esbarrei, embora não por acaso, com 27 pessoas incríveis. Das quais 16 permaneceram em uma convivência diária que, mesmo agora, dói só de pensar que essa fase de estar pertinho todo dia vai passar...
Enquanto estamos no aqui e agora, foi com essas 16 pessoas que tive certeza do destino. E foi com elas também que construímos uma rede de energia, emoção e dedicação que nos sustenta. O todo e as particularidades e questões de cada um. É nessa rede que podemos ser e sentir sem amarras nem julgamentos no processo de busca por nós mesmos.
Eu, que felizmente, já tinha muitos amigos incríveis, descobri que tenho ainda mais do que pensava.
Percebi que é muito difícil se manter real depois de levar um tapa profundo. Estremece, mas a essência não pode morrer. Sejamos fortes!
Percebi que a decepção pode matar. E mata um pouco.
A energia boa e verdadeira é o que pode salvar. Mas, infelizmente, não consegue salvar tudo.
A pior lição de todas: você não pode, ou melhor, não deve ser tão pelo outro. Tão prestativo. Certo, certo... ouvi dizer também que esse tipo essência é imutável e, para falar a verdade, essa é uma lição que talvez deva ser desaprendida, mas é difícil.
Reaprendi que a arte é a alma do mundo.
E que, apesar do pessimismo, pessoas podem ser incríveis. - Grande lição!
Ouvi as coisas mais lindas que carrego comigo e, só de pensar, me chegam lágrimas aos olhos (como sempre acontece).
Percebi que pessoas de 19 anos vão te ensinar grandes coisas. Perspectiva é fundamental.
Infelizmente, o interesse de muitos também é real. Isso é muito triste:/
Vão mentir e sacanear você. Às vezes até mesmo fingindo para si, para você e para o mundo. Você vai desmontar, mas se for verdadeiro, vai encontrar pessoas maravilhosas que vão não apenas te levantar, mas também caminhar ao seu lado.Só para que você tenha força e reaprenda.
Descobri ainda que o peso sufoca e que as amarras atrasam.
A metamorfose precisa de leveza.
Nem sei mais... só sinto.
A ideia é seguir o caminho da verdade, mesmo depois de vê-lo pisoteado.
Mas se você acredita, segue.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Vomita



Vai
Cospe
Expele
Espreme
Chove
Vomita
Vê se de alguma forma sai de ti
Deixa a confusão da alma e ganha o mundo
Deixa a escuridão de dentro e te liberta


Agora? Bang Bang (My Baby Shot Me Down) http://www.youtube.com/watch?v=6IdEfcsjhGE

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Abismo



Olhei dentro do olho do furacão
Lá, entre destroços, névoa, fogo e fumaça,
havia o abismo.
Lancei-me em direção ao infinito.


Imagem: http://www.zupi.com.br/as-montagens-surrealistas-de-thomas-barbey/

segunda-feira, 1 de julho de 2013

O Grito

Se ao menos esta dor servisse
Se ela batesse nas paredes
abrisse portas
falasse
se ela cantasse e despenteasse os cabelos
Se ao menos esta dor se visse
se ela saltasse fora da garganta como um grito
caísse da janela fizesse barulho
morresse
Se a dor fosse um pedaço de pão duro
que a gente pudesse engolir com força
depois cuspir a saliva fora
sujar a rua os carros o espaço o outro
esse outro escuro que passa indiferente
e que não sofre tem o direito de não sofrer
Se a dor fosse só a carne do dedo
que se esfrega na parede de pedra
para doer doer doer visível
doer penalizante
doer com lágrimas
Se ao menos esta dor sangrasse

(Renata Pallottini, Antologia Poética. Rio de Janeiro: Leitura, 1969)

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Singular

Por um segundo você esquece e quase pergunta pelos meninos. Quase acrdita que ambos chegarão dali a alguns minutos a fim de compartilhar um momento familiar. Mais um daqueles encontros esporádicos e, por vezes, cansativos, por entre atividades recorrentes e talvez socialmente mais estimulantes, mas ainda assim, momentos relevantes - agora você entende.

E, em um breve instante, você lembra que a pergunta já não está mais no plural.

Sempre estranho.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Do ordinário

O banal vem e preenche cada segundo das intermináveis horas. Elas que aprisionam, maltratam, atrofiam e ferem. O maior milagre sendo diariamente violentado pelo ordinário. E todas as possibilidades do incrível sendo soterradas pelo mundano, pela lama, pelas amarras e pelo pior carrasco de todos, a mente encerrada nas próprias barras. A frustracao”, ela disse, “é um tipo de doença, assim como a solidao”. Estava doente então, muito doente.  Mas sorria. Contava os segundos e abominava o comum. Ainda assim, matinha-se presa.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Romantismo



Todo esse romantismo barato embrulhado em flores moribundas não me abala. Acho meio ridículos esses apelidos supostamente carinhosos que, na verdade, anulam a identidade. Essa troca de recados, cartões e amores eternos que não duram mais do que cinco minutos – quando muito.
Juras, planos e ilusões.
Ele pensava enquanto retirava velhas fotografias de molduras bem trabalhadas e as jogava numa antiga caixa de recordações destinada ao lixo.
Papéis de bombons amassados e flores murchas.

Agora? Caetano Veloso.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Engrenagem


Como uma máquina seguia em frente.
Contra a própria fadiga. Ignorando o cansaço e as olheiras fundas.
Como uma máquina era impelido a dormir (ainda que muito pouco) e também a levantar, diariamente, no mesmo horário. Propagando o ritual ancestral de apenas ir.
Como uma máquina tentava se encaixar, embora a mente não desse trégua. Seguia no ritmo esperado, desmoronando por dentro, mas em busca de um rumo alternativo.
Apertava botões, girava alavancas, tomava café, sorria amarelo, atendia ligações, cultivava tendinites e girava a roda viva.
Tempos modernos. Inquietações antigas.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Vendedor




Pensou executar especialidades.
Acreditou em ideais, propósitos e contribuições.
Vendeu o tempo.
E o tempo levou a vontade, o desejo, o tesão, o propósito e talvez leve até mesmo a sanidade.