Se ao menos esta dor
servisse
Se ela batesse nas paredes
abrisse portas
falasse
se ela cantasse e despenteasse os cabelos
abrisse portas
falasse
se ela cantasse e despenteasse os cabelos
Se ao menos esta dor
se visse
se ela saltasse fora da garganta como um grito
caísse da janela fizesse barulho
morresse
se ela saltasse fora da garganta como um grito
caísse da janela fizesse barulho
morresse
Se a dor fosse um
pedaço de pão duro
que a gente pudesse engolir com força
depois cuspir a saliva fora
sujar a rua os carros o espaço o outro
esse outro escuro que passa indiferente
e que não sofre tem o direito de não sofrer
que a gente pudesse engolir com força
depois cuspir a saliva fora
sujar a rua os carros o espaço o outro
esse outro escuro que passa indiferente
e que não sofre tem o direito de não sofrer
Se a dor fosse só a
carne do dedo
que se esfrega na parede de pedra
para doer doer doer visível
doer penalizante
doer com lágrimas
que se esfrega na parede de pedra
para doer doer doer visível
doer penalizante
doer com lágrimas
Se ao menos esta dor
sangrasse
(Renata Pallottini,
Antologia Poética. Rio de Janeiro: Leitura, 1969)
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