quinta-feira, 22 de julho de 2010

Habita, mas não é


A minha relação com Clarice Lispector não é muito profunda. Aliás, nem pode ser considerada uma relação já que, entes de A Hora da Estrela, eu só havia lido uma compilação de contos da autora, Felicidade Clandestina.

Pois bem, acabei de ler A Hora da Estrela. A história já era conhecida minha através das aulas de literatura e também de um quadro de Regina Case no Fantástico. Para falar a verdade não lembro bem qual era o quadro nem quando foi exibido, mas lembro de ter gostado do resultado.

O livro conta a história de Macabéia, uma nordestina que vive no Rio de Janeiro e que durante a sua passagem pela vida, habita, mas não é. Ela passa por diversos problemas, dificuldades e sofrimentos, mas não chega a se conhecer verdadeiramente. Não entende muito bem o que se passa ao seu redor e é como se não se desse ao direito de verdadeiramente usufruir ou mesmo de se entregar a algo. Macabéia não se permite e passa pelos dias através de momentos permeados por pequenas liberdades como admirar o capim ou ir ao cinema uma vez ao mês.

O enredo é apresentado por um narrador masculino que precisa desabafar o que se passa com sua personagem. O narrador conversa diretamente com o leitor e, durante a narrativa, confessa as suas dificuldades, fala sobre seus anseios e até mesmo discorre um pouco sobre si. Para mim isso se mostrou um tanto repetitivo uma vez que volta e meia ele ressalta a necessidade que tem de se livrar dessa história, sua angústia e a sua dificuldade em verbalizar o que precisa dizer. Fica ainda mais cansativo se o tamanho do livro for levado em consideração.

Apesar dessa repetição acabei me interessando e me envolvendo com Macabéia. Por quê ela não se deixa viver mais? Essa foi a questão que me acompanhou. Gosto da característica dela de prestar atenção ao detalhe, mas aqui esse detalhe reflete o insignificante, aquilo que não interessa a mais ninguém, assim como a personagem não desperta o interesse das pessoas.

Normalmente não tolero personagens assim, extremamente sofridas e absolutamente conformadas com o que lhes acontece. Como não consigo me identificar, acabado detestando-as, mas nesse caso até consegui sentir certo carinho por Macabéia. Talvez pela esperança iminente que alguns pequenos momentos despertavam.

Não sei quando será o meu próximo encontro com Clarice Lispector, mas veremos no que dará.

Após três livros (O Encontro Marcado, Caim e A hora da estrela) um tanto “pesados” ou tristes, enfim, comecei hoje Sob o sol da Toscana, livro que deu origem ao filme que adoro. Um lindo presente que recebi essa semana.

Agora? Emiliana Torrini (sempre). Seguida de Juanes.

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