quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Dos sons e da Voz, Isaar


Eu sempre ouvia falar em Isaar e na Comadre Florzinha, mas nunca tinha escutado muita coisa delas. Na verdade, o maior contato que eu tive com o trabalho de Isaar tinha sido a sua parceria com DJ Dolores. Fui a alguns shows e adorei.

Pois bem, na semana passada fiz uma pauta para uma entrevista com a cantora e comecei a escutar algumas músicas para entrar no clima. Não é que eu adorei? Me encantei com a sua voz e com o estilo próprio do seu trabalho.

Da própria pauta:

Isaar foi influenciada pelas festas populares de Carnaval e São João antes de dar início à sua carreira na música. Em 1995, ela era brincante do Maracatu Piaba de Ouro. De 1997 a 2004, integrou o grupo Comadre Florzinha, nesse período, foram lançados dois CDs e o grupo viajou pelo Brasil e também pelo exterior divulgando o trabalho.

Em 2001 ela participou do projeto DJ Dolores & Orquestra Santa Massa, criado pelo próprio DJ Dolores (Hélder Aragão). Essa parceria também rendeu turnês e registro em CD. Mas esse não foi o único trabalho ao lado do DJ, em 2004, houve o DJ Dolores & Aparelhagem no qual Isaar era a cantora principal, além de co-autora de muitas músicas.

Foi um grande percurso de trabalhos e parcerias diferentes e ricas antes da carreira solo.

Em 2006, Isaar lançou o seu primeiro CD independente, Azul Claro (composto de músicas autorais). Em 2008, lançou o seu segundo trabalho, Copo de espuma, resultado do prêmio do Projeto Pixinguinha da Funart (Fundação Nacional de Artes).

Além da já citada parceria com DJ Dolores, Isaar já trabalhou ao lado de nomes como Naná Vasconcelos, Siba, Eddie e Mundo Livre S/A, além de contribuir para trilhas sonoras de peças teatrais e filmes como Deus é Brasileiro, A Máquina e Narradores de Javé.

Texto do crítico José Teles sobre a vocalista e o seu primeiro trabalho solo:

A voz e o Azul Claro de Isaar

O que inicialmente me atraiu a atenção em Isaar foi o timbre de sua voz. Isaar canta
macio, doce, mas seu canto não é apenas suave, e afinado, é melancólico. É um canto
que tem um pouco do banzo do africano expatriado, que se incorporou ao DNA dos seus
descendentes. É macio, doce, mas tem suingue e grande extensão, quando a canção
pede. Na Comadre Fulozinha, do qual fez parte de 1999 a 2004, esta peculiaridade de
Isaar não aparecia tanto por ser um grupo de vozes todas femininas.

Não que não desse para se detectar o talento da cantora, afinal a Comadre Fulozinha
sempre foi muito bem-recebida pela crítica, e conseguiu uma razoável exposição, nestes tempos brabos para os artistas terem vez no rádio ou TV. Eu particularmente gosto muito de Isaar em “A cidade tá subindo”, uma musica que está lá no finalzinho do CD Tocar na banda, da Comadre Fulozinha, salvo engano o último que ela gravou com o grupo. Nesta música a voz de Isaar é meio flauta, é meio lamento negro, uma ciranda moderna, só que o som estranho que se escuta, uma riff que faz contraponto com sua voz é uma "póica", a cuíca da Zona da Mata.

Mas eu, como profissional do ramo, constantemente perguntava a músicos que trabalhavam com Isaar: "Por que ela, com esta voz, não grava um disco solo”? Complementava com aquela inevitável "Se" que nós pernambucanos temos mania de
usar: "Se fosse baiana"... E citava o exemplo de Virgínia Rodrigues, que apareceu
rapidamente graças a elogios de Caetano Veloso. Se bem que com um vozeirão daqueles,
Virgínia teria vez de uma forma ou outra. Sem elogios tão poderosos, o mesmo está
acontecendo com Isaar.

Depois de rodar mundo com Antonio Nóbrega, nos grupos montados por DJ Dolores,
participar de várias coletâneas, ela finalmente chegou ao disco solo, “Azul Claro”, que a colocou no time das melhores, e mais original, cantoras surgidas nestes primeiros anos do século 21, Céu, Maria Rita, Ana Diniz, Roberta Sá, para citar algumas, cada qual com sua linha, e linhagem características. A linhagem de Isaar vem da África, embebida no riquíssimo revigorante caldo cultural das manifestações musicais pernambucanas, que são tantas, que é praticamente impossível ficar alheio a elas.

Uns anos atrás, o percussionista Airto Moreira, numa conversa de mesa de bar, me dizia que não se podia passar por Pernambucano imune a sua vasta riqueza de ritmos, toques, e músicas. Imagine quem, como Isaar, cresceu no meio de todo este caudal sonoro, e ainda por cima com talento para apreendê-lo, reprocessá-lo e passá-lo a frente, como vem fazendo há dez anos. Não tenham dúvidas, na carreira dela se vislumbra um futuro azul claríssimo, de céu de brigadeiro. Fiquem de olho e ouvidos bem abertos para esta moça, esta voz!” ( Por José Teles, jornalista, cronista e escritor).”

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* A matéria irá ao ar no programa Nordeste Mais, no quadro Sons Nordestinos. Ainda não há data definida, mas o Nordeste Mais é exibido aos sábados, 10h, através do SBT Nordeste/ TV Jornal.

Agora? Feist.

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