quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O homem além do mito


John Lennon através dos olhos da sua primeira esposa

Entre as décadas de 60 e 70 os Beatles tomaram conta do imaginário popular. O mito nasceu na Inglaterra. Aos poucos conquistou a Europa, partiu para os Estados Unidos e, em seguida, alcançou o mundo.

A banda responsável por sucessos como Because, Twist and shout e Help! Passou apenas alguns anos na estrada entre turnês. Durante esse período os quatro componentes vivenciaram a beatlemania, a histeria provocada pela sua presença. Mal se escutavam os músicos nos seus shows devido aos gritos das fãs que acompanhavam as apresentações. Desde então esse tipo de manifestação se repete, mas nunca da mesma maneira nem com a mesma intensidade.

John, Paul, George e Ringo fizeram história e continuam sendo lembrados e admirados ainda hoje por pessoas dos mais diferentes estilos e origens. Apesar do fascínio que envolve o quarteto de Liverpool, o integrante mais influente sempre foi o líder/fundador da banda, John Lennon. O autor da frase que dizia que o grupo era mais famoso do que Jesus Cristo. O homem que se destacou ao tocar nos Beatles e que, após o término da banda, continuou fazendo história durante a sua carreira solo e, em especial, ao lado da sua segunda esposa, Yoko Ono, com quem se envolveu em causas pacíficas até que foi assassinado por um suposto fã em 1980, em frente ao edifício em que vivia com Yoko e seu segundo filho, Sean.

Apesar de toda a sua fama, há muito sobre John que o público ainda não conhece. Por exemplo, depois do destaque que a sua relação com Yoko teve na mídia, não são muitos os que falam (ou mesmo lembram) que John havia sido casado anteriormente com a sua namorada dos tempos de faculdade, Chyntia. O relacionamento durou cerca de 10 anos e o casal teve um filho chamado Julian, mas isso é pouco lembrado. Após conviver com o astro e o homem durante uma década, Chyntia decidiu, em 2005, publicar a sua versão da história em um livro intitulado John.

Cynthia esteve ao lado do músico durante quase todo o processo da fama dele. O relacionamento teve início antes de a banda ser formada. Ela esteve com ele quando o grupo passou a ser conhecido, no surgimento da beatlemania, na chegada das drogas aos músicos, durante momentos polêmicos e momentos de reconhecimento, quando os filmes deles foram realizados, quando os Beatles decidiram se dedicar exclusivamente à composição e gravação dos discos e quando o quarteto dava sinais de que chegaria ao fim.

A obra fica, portanto entre uma biografia e um livro de memórias, pois através dos relatos e lembranças de Cynthia, o público tem acesso a uma parte da biografia do músico que tem início na sua adolescência e segue até a vida adulta com a inserção de fatos da sua infância.

As palavras da autora compõem um relato emocionado, por vezes magoado, mas principalmente amoroso sobre o que foi o relacionamento e como foi conviver com o mito, passando por como era conviver com o músico na intimidade do lar, a sua personalidade fora dos holofotes, a banda e o fim do casamento que culminou com a chegada de Yoko Ono à vida de John.

A narrativa é envolvente e prende a atenção desde a primeira página, mas isso se deve essencialmente ao protagonista dessa história, o homem que gera o fascínio das pessoas, aquele sobre quem sempre se quer saber mais. Deve-se também ao fato de autora ter acesso a informações que dizem respeito à vida pessoal de John. Enquanto literatura a obra não se destaca. É escrito em uma linguagem simples, direta e extremamente objetiva, sem requintes ou rebuscamentos de nível algum. Talvez essa objetividade não represente um problema uma vez que o principal é o relato em si, as histórias reveladas.

Em contrapartida as memórias em questão são fruto das lembranças de um único indivíduo e, em um relacionamento, toda história é composta por duas versões. Nesse caso a dele, infelizmente, jamais será ouvida pelos fãs. No entanto as palavras de Cynthia soam verdadeiras uma vez que ela expõe as falhas e defeitos do cantor, mas não deixa de enaltecer as suas virtudes. Além disso, John transparece – ainda que eventualmente nas entrelinhas – os próprios problemas da autora. Cynthia tira o ídolo do pedestal para apresenta-lo como um homem capaz de acertar, mas que assim como qualquer outra pessoa, também era capaz de errar (e muito). No processo em que ela revisita a sua própria história entrelaçada a do homem que amava, ela também se mostra vulnerável ao se posicionar enquanto vítima, mas sem esconder as suas decisões equivocadas nem as suas próprias falhas.

Um livro simples. Uma leitura fácil, mas que fascina por tratar do líder de uma das bandas mais famosas da história mundial (se não a mais famosa) sob a perspectiva de alguém que conviveu com o homem de perto.

John
Autora: Cynthia Lennon
Editora: Larousse
Ano: 2005

Agora? Julieta Venegas.

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