terça-feira, 24 de agosto de 2010

Dupla inesperada


Mary e Max definem a verdadeira amizade

Mary e Max (Mary and Max) 
2009/Austrália/ 92 min. 
Direção: Adam Elliot 
Roteiro: Adam Elliot 
Elenco: Toni Collette, Philip Seymour Hoffman, Eric Bana, Barry Humphries 

O desenho animado é um estilo cinematográfico que vem fascinando adultos e crianças há décadas. Durante muitos anos o reinado absoluto desse setor ficou a cargo da Disney e, principalmente, das suas histórias e fábulas sobre princesas. Após a chegada do primeiro Toy Story (Toy Story, 1995) e da técnica de animação 3D aos cinemas, esse quadro começou a mudar e o reinado passou para a Pixar que atualmente lidera as bilheterias do setor, além de apresentar um trabalho consistente.

Paralelamente a essas duas vertentes, está a animação em stop motion, técnica que simula o movimento de objetos inanimados através da imagem. Apesar de ser um estilo executado em menor escala, filmes como O estranho mundo de Jack (The Nightmare Before Christmas, 1993) estão aí para comprovar a eficiência e beleza dessa técnica.

Mary e Max se encaixa nesse último grupo. Animação em stop motion, o longa fala sobre amizade e também sobre encontrar o seu lugar no mundo. É uma trajetória de conhecimento e descobertas, principalmente no nível pessoal.

Mary é uma garotinha de oito anos que vive na Austrália. Ela não se encaixa muito bem na vida que leva. Seu pai passa os dias trabalhando em uma fábrica de saquinhos de chá e, em casa, dedica-se ao seu hobby, empalhar pássaros. Já a sua mãe só atravessa os dias acompanhada de uma garrafa de xerez. Mary, portanto não tem a companhia dos pais. Na escola não consegue fazer amigos e o fato de ter uma cicatriz marrom na testa não ajuda nesse processo. Na verdade só piora, afinal crianças podem ser muito maldosas em relação às diferenças. Além disso, Mary usa óculos e, segundo a sua mãe, está acima do peso ideal. 

Max tem 44 anos e vive em Nova Iorque. Ele é um homem obeso que frequenta reuniões de gordinhos anônimos, mas que passa os dias comendo cachorros-quentes de chocolate – receita que ele mesmo inventou. Max, assim como Mary, não se encaixa. Não consegue se relacionar com as pessoas porque as considera muito complicadas e estranhas. Vive sozinho e o contato com certas memórias e sentimentos é capaz de desestabilizá-lo facilmente.

Em um golpe do acaso Mary escreve ao então desconhecido Max na esperança de – finalmente – fazer um amigo e, quem sabe, esclarecer algumas dúvidas acerca da vida através dessas conversas. Os dois passam a se corresponder e, através das tão aguardadas cartas, constroem uma amizade simples e verdadeira que os levará a encarar a vida de uma maneira diferente. Cada um à sua maneira vai ter que enfrentar seus demônios e dificuldades, mas dessa vez com um amigo para compartilhar os acontecimentos, ainda que ambos estejam tão distante geograficamente.

O longa aborda as duas realidades quase que como dois filmes distintos. Como Mary e Max não têm contato físico o mundo que cada um habita, apesar de certas semelhanças, é retratado esteticamente de maneira bem diferente. Tanto o bairro de Mary como o de Max se apresenta de maneira decadente. O primeiro tem um ar de antigo. Está repleto de casas velhas em mal estado de conservação e os objetos em cena também são velhos e mal cuidados. Já o segundo se encaixa em uma realidade mais moderna uma vez que se constitui de diversos arranha-céus. No entanto a decadência habita as ruas através da sujeira, da pobreza que está ao lado dos grandes edifícios e também através de alguns personagens de fisionomia triste.

A principal diferença entre os dois ambientes é a cor. A vida de Mary é basicamente sépia - como se a promessa de cores indicasse que alguma coisa estivesse prestes a acontecer, mas nunca acontece. Talvez essa promessa seja um reflexo do fato de ela ser uma criança com toda a vida pela frente. Já a vida de Max é basicamente retratada em preto e branco - como se a ausência de cores indicasse que dificilmente fosse acontecer alguma coisa e que seria melhor e mais racional perder as esperanças. Tal escolha pode representar a conformidade de alguém mais velho já cansado e sem grandes esperanças.

Essa paleta de cores só é quebrada por alguns elementos, com destaque para aqueles que são enviados de um personagem para o outro: em especial aqueles que Mary manda para Max. Cada vez que ele lê uma carta ou recebe um chocolate enviado pela sua amiga, o preto e branco que o rodeia é invadido pela tonalidade sépia da garotinha. É como se esse contato o enchesse de luz e trouxesse um novo significado à sua vida. E a amizade é isso mesmo: uma luz diferente, esperança, alegria, complemento. É encontrar-se no mundo junto a alguém que, de alguma maneira, o entende e o aceita como você é, defeitos e qualidades inclusos.

A animação é extremamente competente. O stop motion é muito bem realizado e cada personagem cativa por sua particularidade. A produção apostos em personagens visualmente simples e até mesmo cômicos em seus movimentos desengonçados e, ao contrário de animações do mesmo estilo como A Fuga das galinhas (Chicken Run, 2000), por exemplo, Mary e Max aposta em personagens visualmente mais grosseiros, mas não menos encantadores.

A animação impressiona pela riqueza de detalhes e pela direção de arte extremamente trabalhada. O longa também explora bem a movimentação de câmera em determinados momentos que põem o expectador em contato com os personagens e com as cidades em que cada um vive.
Apesar de se tratar de uma animação, essa, assim como muitas outras que vem sendo lançadas, é dedicada aos adultos. Apesar da ausência de cores que normalmente chama a atenção infantil, as crianças podem se encantar com a movimentação engraçada dos personagens e seus traços simples, mas os temas abordados são explorados de maneira adulta e as ideias retratadas nas entrelinhas também são. Questões como a amizade, o amor, a vida e a solidão, por exemplo, são elementos essenciais na história de Mary e Max.

Um enredo simples construído através de uma narrativa clássica que consegue abordar questões relevantes, além apresentar uma ótima realização técnica, mas que, acima de tudo, tem uma boa história para contar.

2 comentários:

Tainã Almeida disse...

Oiii seu bog é bem lega, depois viisita o meu?

http://blogdeumagarotaadolescente.blogspot.com/

Beijos, visita*

Hugo de Oliveira disse...

hum...deve ser bom viu. Vou procurar pra assistir.

abraços