quarta-feira, 9 de junho de 2010

Cinema como instrumento de criação – e relacionamento


O Clube do filme (David Gilmour)


David Gilmour, crítico de cinema canadense, se viu em uma situação complicada quando constatou que o seu filho Jesse, na época com 16 anos, não apenas não estava se saindo bem no colégio como realmente não se interessava por nada daquilo. O garoto tinha uma boa vida social e se relacionava bem com as pessoas, mas simplesmente não se interessava pela escola nem pelos estudos.

Vendo-se em uma situação complicada, David Gilmour optou por tomar um rumo diferente do convencional. Ele escolheu um caminho próprio tanto para ele como para o seu filho.

Se Jesse não quisesse, não teria que frenquentar o colégio, nem teria que trabalhar nem pagar aluguel. A única condição era ter que assistir a três filmes por semana escolhidos pelo seu pai e ao lado dele. Essa seria a sua educação.

O jovem a aceitou a proposta e pai e filho passaram a viver e compartilhar experiências tendo os filmes selecionados como testemunhas e, muitas vezes, como fonte de inspiração e objeto de reflexão.

A proposta é interessante e o fato de se tratar de uma história real intensifica esse fato, mas o livro não impressiona. Primeiramente por se apresentar de maneira demasiadamente simples, tanto na linguagem como na estrutura narrativa. Em segundo lugar por se apresentar, em muitos momentos, como um simples relato daqueles anos compartilhados. Além disso, a obra se mostra um tanto repetitiva em determinados momentos.

Ao contrário do que se pode imaginar o livro não está focado nos filmes visitados pelos dois componentes do clube do filme. A filmografia, na verdade, é apresentada de maneira rápida e, em sua maioria, sem grandes análises. A questão central aqui é a relação pai e filho, a amizade entre os dois e o crescimento que acaba modificando essa relação entre os cúmplices através de temas como amor, drogas, sexo, insegurança e falta de perspectiva, por exemplo. Ambos são apaixonados pelo cinema, mas a sétima arte funciona aqui como um intensificador dessa relação.

O engraçado é que decidi ler a obra porque um conhecido disse que estava fazendo um clube semelhante com o seu próprio filho. Ao contrário da história original, esse não estava fora da escola, mas pai e filho acordaram ver um número específico de filmes por semana. O pai seleciona, pauta o filho com informações a respeito da obra que será vista e os dois assistem para, em seguida, discutir o que foi visto. Segundo ele, a prioridade são filmes relacionados aos temas que estão sendo abordados no colégio, assim se podem discutir temas escolares e também aspectos fílmicos. Achei a iniciativa louvável e o fato de um livro ter despertado essa atitude fez com que eu achasse tudo ainda mais interessante.

No fim das contas O Clube do filme é uma obra leve que não impressiona, mas que trata de um tema bonito através de um prisma interessante.


Agora? Julieta Venegas.