quinta-feira, 13 de maio de 2010

Das impressões negativas


Sabe que às vezes as pessoas te impressionam? Uma pena que em boa parte desses momentos seja de uma maneira tão negativa.

Pois bem, fui ao cinema nessa quinta-feira. Aliás, fui à uma sessão especial do filme Criação. Especial porque, além de ser aberta ao público em geral, estava sendo exibida especialmente para um grupo de universitários (frise bem essa informação, é essencial) que deveria assistir ao longa, participar de um debate promovido logo após o término do filme para, posteriormente, discuti-lo em sala de aula.

O filme aborda a vida de Charles Darwin durante o processo da escrita do livro, A Evolução da Espécie. Um filme muito bem construído, fica a dica. Estruturado de maneira não linear, o longa apresenta uma faceta não muito conhecida do cientista, além de levantar questões importantes como o conflito entre a ciência e a religião, para citar apenas o mais óbvio.

Quando você vai a uma sessão como essa, cujo filme é tão particular e apresenta uma proposta um pouco mais densa do que boa parte das produções dos Multiplex e, especialmente, quando a exibição é direcionada para um público como o citado aqui, espera-se que seja um momento tranqüilo e até mesmo prazeroso. Afinal, um debate sobre um filme que levanta tantas questões pode ser proveitoso.

Em compensação tudo isso pode não dizer nada e o momento pode se apresentar caótico e constrangedor – fato!

Então tá, o começo já foi ruim. Eis que as pessoas eram incapazes de assistir a um filme em um cinema. Gritinhos, conversas, brincadeiras indevidas. Um comportamento inaceitável, especialmente em uma situação como essa.

Após mais de uma hora de tortura coletiva o filme chegou ao fim cedendo lugar ao debate.

Em uma de suas observações iniciais o palestrante levantou uma possibilidade/ questionamento encontrado no filme e disse algo como “Não tenho dúvidas que nós viemos dos macacos". O debate foi quase que totalmente voltado para a relevante questão “eu não vim de um macaco” com direitos a comentários raivosos e calorosos de que “eu não vim de um macaco. Por acaso eu nasci de um? Ah! E os macacos vêm de onde?".

Oi!?

Ok, não aceitar a teoria de Darwin porque crê na teoria religiosa, beleza, acho digno. Não conhecer – porque sim, a maioria dos estudantes não conhecia mesmo e não entendia nem a teoria nem o filme – a teoria da evolução das espécies, apesar de ser um tema abordado no colégio, ok também. É estranho, mas eu poderia viver com o fato de muitas pessoas estarem tendo esse primeiro contato ali. Sério, numa boa.

Agora, não conseguir compreender o que estava sendo dito pelo palestrante (numa linguagem simples) ali em tempo real, ao vivo! - Lembrando que se tratava de universitários - aí não dá para mim. Não conseguir perceber que “vir do macaco” não quer dizer literalmente nascer de um, também é muito na minha humilde opinião.

Perturbador. Muito perturbador. Vergonha alheia nível mil. Saí de lá perturbada e realmente impressionada.Um bom filme, mas uma péssima experiência coletiva. Desde a falta de educação presenciada até a frustração da discussão sobre o macaco. Realmente perturbador se você parar para pensar no contexto. Se você levar em consideração as pessoas em questão, o nível escolar dessas pessoas e a educação desse país. Mas vamos lá brincar de Pollyana, não é mesmo?

Agora? Nouvelle Vague.

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