domingo, 28 de fevereiro de 2010
O Lobisomem (The Wolfman)
O Lobisomem (The Wolfman)
EUA/ 2010/ 125 min
Direção: Joe Johnston
Roteiro: Andrew Kevin Walker, David Self
Elenco: Benicio Del Toro, Anthony Hopkins, Emily Blunt, Hugo Weaving, Mario Marin-Borquez, Art Malik, Michael Cronin, Geraldine Chaplin
Adaptação do filme homônimo de 1941, O Lobisomem chega às telas como uma homenagem aos filmes de terror de antigamente. Vale conferir, especialmente em uma época onde os lobisomens da série Crepúsculo estão em alta. Lobisomens estes tão diferentes do apresentado aqui. Ao invés dos adolescentes sarados, bonzinhos e semi-nus, a criatura de Benicio Del Toro chega com uma forte carga de terror.
Na Inglaterra vitoriana, o ator Larry Talbot (Del Toro) é chamado às pressas de volta à sua casa após anos sem entrar em contato com a sua família para ajudar a procurar o seu irmão desaparecido. O chamado é feito pela sua cunhada (Emily Blunt), mas sua chegada se mostra tardia. O corpo do irmão é encontrado um dia antes do término da sua viagem. Como as circunstâncias dessa morte se mostram obscuras, Talbot decide ficar para ajudar a esclarecer o caso. Sua permanência implica na descoberta de um monstro que assola o lugar, a mítica figura do lobisomem.
O longa se revela uma grande homenagem ao estilo e se apresenta de forma muito competente. Em termos de roteiro não é muito interessante, mas o enredo nunca foi o ponto forte desse estilo, não é mesmo? Não que a história não seja boa, mas não apresenta grandes complicações e se desenrola de maneira um tanto previsível, o que não chega a ser um grande problema. Os fãs do estilo não devem se decepcionar.
Existem vários pontos altos nessa produção, mas quem realmente carrega o longa são os protagonistas: Del Toro e Anthony Hopkins, que interpreta o pai de Talbot. Emily Blunt está bem, mas a sua presença no elenco se justifica realmente para balancear a trama com uma relação amorosa e mais sentimental que ajuda a quebrar o clima de terror. Hugo Weaving faz um bom trabalho como de costume, mas a sua participação é um pouco menor. A química entre os atores é importante para que o filme caminhe bem e isso existe aqui.
A fotografia é outro aspecto que merece destaque: sombria, escura e com tonalidades cinza. Esse é outro elemento fundamental para estabelecer o clima do filme, assim como acontece com a música que conduz cada momento criando a tensão necessária para o suspense.
O terror se estabelece assim através da composição do todo: música, fotografia e muitas cenas de perseguição, morte e vísceras, mas sem grandes exageros. Tudo de maneira balanceada. Não espere uma carnificina no estilo Jogos Mortais, mas se prepare para um bom terror à base de uma boa maquiagem e de uma direção de arte detalhista e bem realizada.
O principal destaque fica com a concepção do lobisomem. Assim como Del Toro idealizou, a criatura é construída à base de maquiagem, assinada por Rick Baker. A preparação do lobisomem levava cerca de três horas para ser finalizada e necessitava de aproximadamente duas horas para ser retirada, processo esse um tanto doloroso para o ator. Vale ressaltar que Benicio não apenas atuou no filme, como também concebeu a idéia e produziu.
Em um momento onde o 3D e grandes efeitos especiais estão em alta é interessante ver um filme que opta pelo caminho contrário, a maquiagem. Essa escolha resulta em um visual clássico bem concebido e realizado que nos remete aos filmes antigos. Dosa-se bem o atual e o clássico. Os efeitos especiais são utilizados, mas sem exageros. A transformação do homem na criatura acontece de uma maneira impressionante e verdadeira com o auxílio de efeitos visuais. E o lobisomem final é uma boa surpresa.
O Omelete realizou uma entrevista com o protagonista do longa. Segue:
"Ao assumir o papel de produtor, você encarou o trabalho como uma função prática ou você realmente conduziu a refilmagem de um filme que amava quando criança?
Benicio del Toro: Foi um pouco dos dois na verdade. Nós propusemos a ideia, eu e Rick Yorn. Nós fomos ao estúdio e lançamos a ideia de fazer um remake do filme original do Lobisomem, com a intenção de prestar homenagem àqueles filmes clássicos de terror da Universal, como Frankenstein. Quando digo prestar homenagem, quero dizer se manter fiel à história e ter a maquiagem como componente significativo, ter o ator maquiado como parte do filme - e eles gostaram dessa ideia. Eu acho que Andrew Kevin Walker entrou para o projeto, e aí Rick Baker entrou e começamos a andar. Eu sou um grande fã de todos esses filmes de terror. Desde que eu me lembro, estes foram os primeiros filmes - os filmes dos Monstros da Universal - em que eu sabia o título do filme e também o nome dos atores. Eu acho que eu já sabia isso antes doChitty Chitty Bang Bang ou do Dr. Dolittle.Esses são os filmes que eu cresci assistindo. E isso quando eu tinha quatro, cinco, seis, sete anos.
Como tem sido abrir portas para outros atores latino americanos com o seu talento?
O que isso significa? Bom, para mim isso significa o mundo. Quando eu cheguei em Hollywood havia uns três nomes de atores latinos, três ou quatro nomes, talvez cinco. Tinha o Raul Julia, Edward James Olmos, Andy Garcia, Antonio Banderas e Jimmy Smits. Agora têm muitos. Eu acho que agora há mais cineastas, mais roteiristas, mais diretores, vários deles vindos do México ou Espanha. Eles conseguiram fazer filmes em Hollywood que funcionam, então eu não diria que sou apenas eu. Eu acho que existe toda uma geração de latinos mas acho que já mudou bastante desde que eu comecei. Eu acho que Hollywood - não apenas a Universal, mas Hollywood - se tornou mais parecida com o mundo. Acho que agora, mais do que nunca, temos mais pessoas vindas de diferentes partes do mundo. E não só os latinos. Há alguns anos uma atriz francesa ganhou o Oscar de melhor atriz. Isso é bom. Traz a indústria de volta para era do cinema mudo, por exemplo, onde havia muitos diretores de várias partes do mundo, e atores do mundo todo, fazendo só filmes de Hollywood.
Quem te levou para esses filmes de terror? Você também se interessava por filmes como O Silêncio dos Inocentes?
Foram os meus primos. Eles eram mais velhos mas esses filmes também nem eram da época deles. Mas o que eu acho é que em algum momento dos anos 60, início dos anos 60, houve um revival desses filmes de terror. Eu me lembro, por causa dos meus primos, que tinha uma revista chamada Famous Monsters (Monstros Famosos). Essa revista esteve na minha casa desde sempre, pelo que me lembro. Na verdade os primeiros filmes que eu assisti - isso antes do VHS, do DVD, do Blu-ray e até da TV a cabo - eram filmes em Super8. Esses filmes em Super8 começaram meio que em algum momento dos anos 60. Outra coisa que eu lembro da infância eram uns kits de miniaturas do Frankenstein ou King Kong em que você colava a partes e aí pintava. Eu acho que era uma ótima distração para crianças. E alguns deles eram bem gore. Eu me lembro de uma miniatura da Noiva do Frankenstein em que você tinha que pintar tipo um dos membros, um cérebro. Eram brinquedos muito legais. Eles eram feitos pela Aurora, uma empresa do Illinois. Os filmes eram feitos por uma empresa chamada Castle Films. Então eu acho que houve um regresso a essas produções nos anos 60, antes da minha época, e eu entrei nessa já no final, porque as outras crianças com quem eu cresci não tinham primos mais velhos. Eles não tinham essa conexão com os monstros quando tinham a minha idade. Eu peguei o fim dessa onda e eu me lembro de alguns kits de miniaturas, porque já não fabricavam mais quando eu estava crescendo. Eu sonhava a Noiva do Frankenstein que meu primo tinha, porque essa era a mais legal de todas. Eu sonhava com essas miniaturas, porque eles tinham e eu não.
Você era fã de O Silêncio dos Inocentes?
Sim, e também Tubarão, que eu me lembro de ter assistido logo que saiu. Mas Silêncio dos Inocentes, Halloween... Eu gosto de todos os tipos de filmes, mas também gosto muito de alguns desses filmes de terror. ESilêncio dos Inocentes é claro, por Sir Anthony Hopkins.
Qual sua opinião sobre a computação gráfica e o seu processo de convencer o estúdio a usar maquiagem?
Quando você tem Rick Baker morrendo de vontade de fazer o filme, não é preciso se esforçar muito para convencê-los. Eu acho que o estúdio não teve nenhum problema com Rick Baker optando por fazer tudo com maquiagem. Bom, eu acho que a computação gráfica pode aprimorar um filme. Acho que ajuda esse filme. Na transformação, a CGI ajuda. Quando à tela verde, é bem parecido com atuar no palco. Você precisa fingir que existe uma janela, fingir que ali está alguma coisa que na verdade não está ali e convencer a plateia. Faz parte da atuação. Então eu não tenho problema com a tela verde. Eu fiz Sin City, que foi todo feito em tela verde e me diverti. Eu me divirto em tudo que eu faço, exceto esses eventos de imprensa. A maquiagem é de Rick Baker. Eu fico mencionando o nome dele, mas nesses filmes dos anos 20, com Lon Chaney, Sr. eFrankenstein, The Bride of Frankenstein, The Wolf Man, todos esses filmes, o maquiador da maioria desses filmes era um cara chamado Jack Pierce. Parte do atrativo desses filmes, além de serem assustadores, é que eles eram muito legais. Eles eram bem legais. Frankenstein é uma maquiagem muito legal. Quer dizer, Boris Karloff ficava fantástico com a maquiagem, mas a maquiagem também era legal. Eu acho que isso é algo que Rick Baker entende melhor do que ninguém. Tivemos algumas reuniões com ele sobre isso e estávamos na mesma sintonia. Com Rick Baker você vira uma tela e deixa ele pintar a sua cara inteira. O único problema é tirar isso depois. Leva mais ou menos umas duas horas e digamos que é doloroso. Chegou um momento em que eu parei de gostar dele no processo de tirar a maquiagem, mas aí na próxima vez que ele vinha e começava a passar a maquiagem, eu me apaixonava por ele de novo. É uma relação de amor e ódio.
Como ganhar o Oscar mudou a sua vida e a sua carreira?
Eu não me lembro muito desse dia, mas acho que mudou bastante. Não sei se eu estaria aqui sem aquele Oscar, para ser sincero. Tem alguma coisa no Oscar que dá confiança e você sente que pode cometer a ousadia de entrar num estúdio e dizer "E aí galera, que tal essa ideia de eu interpretar o lobisomem?". Eu acho que o Oscar de dá um tipo de coragem, ou algo assim, te dá a ilusão de que você consegue fazer tudo. É bom para os negócios.
Você se identificou com a luta de Talbot para ser um ator, sendo que o pai dele era contra?
Sim, eu ouvi até muitas pessoas dizendo que esse era o filme da minha vida. Mas não exageremos. Os elementos do ator no filme foram colocados por Andrew Kevin Walker. Transformar o meu personagem num ator é meio sutil no filme, mas ele está fazendo Hamlet. Hamlet, na peça, está numa jornada de vingança para derrotar um tio, que matou o pai dele. Então Andrew Kevin Walker transformou Lawrence Talbot num ator que, quando chega em casa para investigar o que aconteceu com seu irmão, descobre que o culpado é o pai - e precisa trilhar uma jornada semelhante a do Hamlet para quebrar essa corrente. Então essa é a ideia. Não foi tipo "E aí cara, eu sou um ator e meu pai blá blá blá". Meu pai era um cara durão e rígido, mas ele estava presente. Eu fui estudar, mas meu pai estava presente. Eu tomava café da manhã e jantava com o meu pai todos os dias. Esse não é o caso de Lawrence Talbot.
Como foi o dia em que você contou para ele que você é um ator?
Esse foi o dia em que eu ganhei o Oscar. Eu não tive que contar nada para ele.
Como foi trabalhar com o Joe Johnston?
Bom, no começo desse filme tínhamos outro diretor. Seria Mark Romanek. Na segunda semana de pré-produção ele saiu e ficamos sem diretor. O filme já estava sendo rodado e o personagem Lawrence Talbot, que eu estava discutindo com Mark Romanek e Andrew Kevin Walker, era um pouco mais sombrio. Era meio violento. Ele era um ator, um herói relutante mais que qualquer coisa. Aí Joe Johnston entrou e tivemos uma reunião com ele. Tivemos que escolher um diretor muito rápido e ele teve culhões para pular de cabeça e assumir esse filme que já estava em andamento. Nós somos muito gratos a ele por isso. Então quando ele entrou, esse ângulo do personagem que tínhamos com Mark Romanek começou a mudar um pouco. Eu acho que foi ideia de Joe Johnston mantê-lo mais do lado da nobreza, de ter um caráter nobre, poderíamos dizer que é um personagem direto. Eu achei que foi uma boa ideia, especialmente nesses filmes, porque já tem tantas camadas no filme. É melhor não confundir as coisas aqui. É um filme de fantasia, você não quer transformá-lo num drama apenas. Então o Joe entrou e começamos a trabalhar nessa direção, ele estava disposto a explorar coisas. Como ator, você chega no diretor e pergunta "Que tal se eu fizer isso, ou aquilo?". Ele foi muito colaborativo, eu acho, com todos os atores. Comigo, ele permitiu que eu explorasse algumas coisas e deu certo. Então gostei de trabalhar com ele.
Como foi seu processo criativo na história em si? Vocês em algum momento incorporaram o pentagrama?
O pentagrama, não sei se usamos isso. Conversamos que talvez a mordida, quando estava cicatrizando, poderia formar um pentagrama, mas as coisas não foram nessa direção. Nós queríamos manter a base do filme original. Essa também é uma boa pergunta para o roteirista. Basicamente, quando Andrew Kevin Walker entrou no processo, nós passamos a bola para ele. Quando ele chegou com essa história mais sombria entre pai e filho e o lance do Hamlet, eu achei que era muito legal. Mas ele manteve a bala de prata, a lua cheia e também o fato de que a bala de prata vai derrotá-lo - o que eu acho importante nesse filme. Uma vez que você coloca uma bala de prata no monstro, acabou. Nós não queríamos que o monstro... Nós queríamos que houvesse um fim para a maldição, para o monstro. Então, o que mais queríamos manter? Uma coisa que o Andrew fez e que eu também gostei foi fazer o Lawrence Talbot mais ativo. Eu acho que no original ele é um pouco mais vítima. Na nossa versão, ele reage e meio que luta contra. Ele quase se torna um detetive, mas essas eram coisas que queríamos manter. E também o fato de que ele vem dos Estados Unidos, o que facilitou para que eu não tivesse que falar com sotaque britânico. A relação com a Gwen também ficou um pouco mais próxima que no original. Eu também não me incomodo com isso, não me importei de estar próximo de Emily Blunt. Então essas foram as coisas feitas pelo roteirista, quando ele pegou a bola e depois lançou de volta para a gente, que eu pessoalmente gostei muito para uma refilmagem.
As cenas do hospício também foram uma colaboração? Quão importante é para um ator conhecer a própria loucura?
Toda a parte do hospício, bem, o que eu posso dizer? Essa sequência foi difícil de fazer mas eu sempre pensava "Espera, esse cara está coberto de sangue e ele é preso. Então eles podem culpá-lo por todas as mortes". Então a ideia dessa parte é que vamos provar que ele não é um lobisomem e aí vamos enforcá-lo, ou algo assim, então é meio que um teste. A ideia é que eles são cruéis com ele no hospício, o que achei que funcionaria bem. Teve a minha abordagem no filme e colaboração, algumas coisas o Joe Johnston sugeriu, por exemplo o eletrochoque, que estava começando a acontecer naquela época. A tortura com água já estava lá. Isso foi difícil fazer porque eu estava realmente amarrado naquela cadeira e quando você imerso de costas a água era para ser muito gelada. Eles faziam isso na época, talvez ainda façam. Minha abordagem para isso é que eu tinha sido jogado em água gelada e meu instinto era gritar. Então eu decidi que ia gritar, o que foi uma escolha, mas eu não sabia o que isso significava quando você está de cabeça para baixo. Eu aprendi isso do jeito mais difícil, mas quando você está gritando de cabeça para baixo, sua boca está aberta e você está gritando, então todo seu ar está saindo. E como você está de cabeça para baixo, a água fica presa aqui [cavidade do nariz]. Quando você volta, está sem ar e só consegue expirar. Não dá para inspirar, só expirar e se você tenta puxar o ar fica tudo preso. Eu tive a sorte de ter bons dublês por perto e nós combinamos um sinal. Se alguma coisa acontecesse, eu faria o sinal e eles entrariam, me desamarrariam para que eu pudesse deitar e respirar. Tivemos que fazer isso uma vez, chegou a um ponto que eu não conseguia respirar. Entrei em pânico por um segundo e fiz o sinal. Eu não me lembro do sinal, mas eu não conseguia nem mexer minha cabeça porque ela também estava amarrada. Talvez era com a mão ou qualquer coisa. Então essa parte era meio difícil mas, olhando o resultado, acho que deu certo. E a colaboração com o Joe, eu me lembro que conversamos sobre injetar nele alguma droga, uma droga desconhecida, e ele desenvolveu isso para que eu não fosse tão coerente e desse uma ideia de alucinação, de sonho. Uma sensação semelhante ao original, que tinha os pesadelos. Então todas essas coisas foram incorporadas nessa cena do hospício e eu acho que deu certo. Me lembro da cena em que a personagem da Emily, a visão da personagem dela entra na cela e tem um espelho. Eu me lembro de sentar com o Joe e dizer "Por que nós não colocamos o lobisomem atrás de mim para aparecer também?". Então nós colaboramos muito nessa sequência e acho que muito disso deu certo.
Você treinou o uivo?
Não, eu não urrei nenhuma vez porque, sabe, é muito difícil urrar com aqueles dentes. Você não consegue fechar a boca com aquilo. É tipo como ter uma colher de plástico na sua boca e tentar falar.
Também no Omelete você encontra uma entrevista com Hugo Weaving e outra com Emily Blunt. Fica a dica.
Balanço da semana:
* Um Olhar do Paraíso;
* O Lobisomem:
* Simplesmente Complicado:
* A 4ª temporada de Will and Grace (compulsivamente. No momento, o segundo DVD da temporada).
Agora? Bebel Gilberto.
Ainda lendo o livro sobre roteiro. Eu sei eu preciso voltar a ler mais.
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