terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Capitães da Areia (Jorge Amado)


Outro dia assisti a um teaser do filme Capitães da Areia baseado no livro homônimo de Jorge Amado. Gosto muito desse livro e, a fim de esquentar a expectativa e reavivar a memória, decidi revisitar a história dos meninos abandonados das ruas da Bahia.
Vamos por partes. Primeiro o livro e, em seguida, o filme.

Os Capitães da Areia são um grupo de crianças abandonadas que vivem na marginalidade. O seu quartel general é o cais, daí o nome do grupo. Liderados pelo jovem Pedro Bala, as crianças aterrorizam a Bahia com seus assaltos. (Sobre)Vivem à margem, dentro das suas próprias leis.
Minha relação com a obra de 1937 é conturbada. Meu primeiro contato com o livro aconteceu em 1999, quando estava na oitava série, em uma época onde eu ainda não lia por prazer, mas sim por obrigação escolar. E aquela obrigatoriedade não era muito favorável às minhas leituras. Devido a isso, lembro de não ter gostado da história nesse primeiro momento.

Com o tempo, a minha relação com os livros mudou e, a medida que isso aconteceu, resolvi voltar aos Capitães da Areia e a impressão inicial se dissolveu. O livro e a história daquelas crianças baianas ganharam outro significado para mim. Imergi na vida de Pedro Bala, Professor, Gato, João Grande, Sem Pernas e tantos outros e a vida do trapiche me fez refletir bastante.

Dessa vez voltei aos já conhecidos garotos e, mais uma vez, a visita foi dolorosa e, ao mesmo tempo, bonita. O livro é muito real e palpável e o contato com uma vida tão miserável e é sempre chocante. O interessante aqui é que o autor mostra o funcionamento de um grupo de crianças que sobrevivem juntas através de roubos, na ilegalidade. Mas, paralelamente, aborda quem são essas crianças, de onde vieram e o que as tornou assim. A maneira como são marginalizadas pela sociedade e também pelas autoridades e luta de poucos que tentam mudar aquela realidade sofrida.

Gosto dessa realidade exposta que gera reflexão. O único ponto baixo, para mim, é a repetição utilizada por Jorge Amado. Em um mesmo parágrafo se diz a mesma coisa mais de uma vez a fim de enfatizar o que, para mim, não é interessante, mas isso não influencia a beleza suja de uma história tão verdadeira e, sim, tão bonita.
Temos aqui amizade, marginalidade, amor, infância, malandragem, religião, a Bahia e muito mais. Fica a dica para quem ainda não leu.

O filme transpôs o enredo para a década de 50 e tem estréia prevista para esse ano. A direção ficou a cargo da neta do escritor, Cecília Amado que estréia na direção com esse filme, após trabalhar em setores como continuísmo e assistente de direção. O longa contou com uma seleção de mais de mil crianças vindas de organizações não governamentais e trabalhou a questão da preparação desses atores. Para saber mais sobre todo os processos do longa é só vir aqui no site do filme.

* Você pode conferir ainda uma pequena entrevista com a diretora por aqui.

Agora é aguardar para ver o resultado.

Agora? A trilha sonora de My Blueberry Nights.

2 comentários:

Canto da Boca disse...

Olha só Natali, a sua análise mais uma vez é primorosa, sensata e em poucas palavras consegues levar o leitor ao desejo de mergulhar na leitura sugerida, o que aliás, já é lugar-comum essa minha afirmação. É uma leitura pertinente, válida e muito atual, embora eu não seja mais uma leitora do Jorge Amado, sei que isso pode parecer antipático, mas...

Anônimo disse...

Eu nunca li esse livro, mas adoro Jorge Amado. Fiquei super interessada em ver o filme e, caso eu goste, vou ler o livro também. Valeu a dica. Bjs