terça-feira, 27 de julho de 2010

Ver e experimentar cinema


Hoje me deparei com esse texto de Bruno Yutaka no seu Ilustrada no Cinema e decidi compartilhar.

Sobre o cinema. Sobre ver e experimentar cinema:

"Onde não há cinema

O leitor Marcelo Henrique é fascinado por cinema. Ele mora em Ribeirão Preto, SP, e recentemente enviou um e-mail para este blog contando como é difícil assistir a bons filmes morando numa cidade onde não há salas de cinema alternativo. Ele questiona: como manter o hábito [de assistir a bons filmes]?

Em São Paulo, capital, tudo é mais fácil, claro. Além do circuito normal, há, todos os dias uma boa mostra alternativa em cartaz. Amanhã, por exemplo, é a vez de “Dogma 95 - 15 Anos Depois”, na Cinemateca Brasileira.

No entanto, tudo é relativo. Sempre haverá alguém insatisfeito. Volta e meia ouço alguém aqui na cidade reclamar: “Nesta semana não tem nenhum filme legal em cartaz”. Ou então: “Só estreia coisa ruim aqui”. É desaforo para leitores como o Marcelo.

Comportamento natural do ser humano. Quando se entra em comparações, surgem frustrações. A programação de SP é boa comparada com a de Paris? E se for comparada com as cidades do interior do Brasil?
As coisas são menos drásticas desde pelo menos as invenções da televisão, do VHS, do DVD e da internet. Scorsese deve boa parte de seu conhecimento a noites sem dormir em que assistia a grandes clássicos que passavam na TV.

O modo tradicional (ultrapassado?) de se ver cinema é uma experiência que depende, sim, do local onde se vive. Se antes ver filmes solitariamente era uma opção, hoje é a única alternativa em muitos lugares.

Retornei semana passada de férias. Passei em dois extremos: Lins (SP), cidade com 73.183 habitantes, e Paris (França).

Numa das últimas vezes em que fui a Lins, havia um único cinema, anexo de um grande supermercado. Passava “A Paixão de Cristo”. Desta vez, não havia mais cinema. Meus tios me contam que não havia público, que o ingresso era muito caro. Os que gostam de cinema preferem alugar DVDs. No final das contas, é a grande crise do cinema mundo afora.

Soa saudosista falar assim, mas vale lembrar que cinema não é apenas o filme que está na tela. É o filme da vida real que já começa quando você se arruma em casa para ir à sala de projeção. É o burburinho na fila. É encontrar aqueles amigos que você não vê há tempos, oportunidade para colocar a conversa em dia. É a troca de ideias após a projeção. É o sentimento de pertencer a algo coletivo, quando se ouve as pessoas rindo ou lágrimas contidas da pessoa ao lado. É quando você, mesmo morando numa cidade grande, sente-se parte de uma vila.

Por mais que eu tenha me bodeado de ter perdido a sessão das 7 de “Vincere” no Cinesesc, no último sábado _era uma fila quilométrica, como eu não via há tempos_, não me incomodo. A vontade de fazer parte de algo coletivo é algo que compartilho com as pessoas que estavam nessa fila.

Paris é o oposto de Lins, sabemos. Em cada esquina, há uma sala de cinema. A existência de sala em uma cidade, diversidade na programação etc. é apenas uma grande metonímia. Sem preconceitos. Mas diz muito sobre a economia de uma região.

Ver filmes sozinho no computador é como viajar sozinho. É melhor do que não ir, mas depois de um tempo, a experiência fica meio vazia."

Agora? Vanessa da Mata.

Imagem do filme Cinema Paradiso. Para quem ainda não viu, fica a dica.

6 comentários:

CoisasDeMulher - HelanaBarbosa disse...

Oiii, tem um selinho pra vc lah no meu blog... dah uma olhadinha lah.

www.helanabarbosa.blogspot.com

bju
bju

Yupaqui disse...

Eu diria ao Marcelo que Ribeirão Preto tem sim sessões alternativas de cinema. Consulte a programação no site www.cinefilosrp.net

Eduardo Rocha disse...

Eu tenho cada vez mais deixado de ir ao cinema e entregado ao divx (sim, assumo que alugar dvd não faz parte da minha rotina há muito tempo), mas sinto muita falta mesmo de ir ao cinema. Não é apenas pela telona, o escuro, o frio e o som fantástico. O preparo, o encontro, a pressa, as filas, tudo isso torna a experiência muito mais gostosa e não dá pra reproduzir em casa. Espero não me enganar em relação a isso, mas esse cinema tradicional nunca vai morrer!

Natali Assunção disse...

Edu, concordo com você. Acho difícil que esse "cinema tradicional" não morrerá. Passará, naturalmente, por transformações, mas acredito que manterá a sua essência.
Vou sempre ao cinema e amo a experiência. No entanto tenho me frustrado cada vez mais com o público que frequenta as salas. É realmente lamentável que a educação, muitas vezes, fique em casa quando as pessoas saem de casa.
É importante lembrar que o cinema, embora pago, é um ambiente público e que é fundamental respeitar o espaço alheio e as pessoas que estão lá.
Tem sido difícil, mas ainda estou indo.

Eduardo Rocha disse...

Realmente parece que o público tá cada vez pior. No último filme que assisti no cinema, Kick Ass, tinha apenas umas 10 pessoas na sala, mas foi terrível. O povo não parava de gritar e fazer piadinha. Nesse aspecto, minha casa é muito mais legal!

Caleidoscópio disse...

Ok, correções do meu comentário:

"acho que esse "cinema tradicional" não morrerá.

E outra:

"É realmente lamentável que a educação, muitas vezes, fique em casa quando as pessoas saem de lá."

haha

=*