Alegria de Menina

Era uma manhã calma de domingo. Daquelas em que nada acontece e a vida segue um compasso lento – mais lento do que se gostaria.

O sol estava alto e brilhante. Tempo quente. O vento fraco aliviava o dia. As folhas balançavam lentamente no alto das árvores como que para reafirmar a lerdeza do dia. As mãos idosas e calejadas dançavam com a esponja e o detergente trazendo brilho aos pratos sujos. Dora lavava a louça como costumava fazer diariamente.

Ao fundo a vitrola antiga trazia um som saudoso tão conhecido. A linda voz feminina cantarolava a canção daquela que continuava a dança na cozinha.

Logo ela que aprecia estar só de vez em quando, sente-se solitária hoje. À medida que conduzia a água e o sabão pelos pratos perdia-se com seus pensamentos em suas lembranças.

Terminou os pratos, mas se manteve imóvel. Antes de seguir o seu rumo natural, retirou um copo do antigo armário e o encheu de água e sabão. Levou um canudo consigo e se sentou na sua cadeira de balanço diante da porta olhando para a rua. Poucas pessoas passavam por lá àquela hora.

Já não era tão moça. Conduzia a cadeira para frente e para trás com seus pés cansados amparados apenas por uma velha alpercata.

Misturava o sabão e a água com o canudo que levou à boca. Soprou-o e diante de reencontrou as bolas de sabão da sua infância. Soprou mais e mais e era como se tivesse dez nos novamente. Viu-se diante de uma rua repleta de bolinhas multicoloridas. Essa alegria simples mudou o rumo do seu dia.

Continuou balançando a cadeira com seus pés cansados em um ritmo calmo para frente e para trás e seguiu preenchendo o vazio com as bolas de sabão. A felicidade de uma menina é renovadora.

Uma mulher passou com um bebê em seu colo. A beleza das boas de sabão fascina a criança que segue seu rumo por entre a beleza do dia e da nova alegria de Dora.

Ela sorri. Dora também.

Natali Assunção.

Agora? Camille. Antes disso: Mula Manca e a Fabulosa Figura e Tiê.