quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Um Olhar do Paraíso (The Lovely Bones)


Um Olhar do Paraíso (The Lovely Bones)
EUA/ 2009/ 135 min
Direção: Peter Jackson
Roteiro: Fran Walsh, Philippa Boyens, Peter Jackson, Alice Sebold (livro)
Elenco: Saoirse Ronan, Mark Wahlberg, Stanley Tucci, Rachel Weisz, Susan Sarandon, Rose McIver, Reece Ritchie, Michael Imperioli

O novo filme de Peter Jackson, responsável pela trilogia Senhor dos Anéis, chega com um gosto agridoce porque se apresenta forte, impactante e, ao mesmo tempo, sensível e leve. Uma enxurrada de cores e imagens marcantes ajudam a contar essa história forte que se apresenta quase como uma fábula emocionante que envolve e impressiona.
Baseado no livro de Alice Sebold – que eu não li – o longa fala sobre a transição dessa vida para outra. Nesse caso, a de uma garota de 14 anos, Susie Salmon, que foi brutalmente assassinada. Enquanto Susie tenta descobrir o que acontece depois da vida, seus familiares procuram descobrir quem foi o responsável pela sua morte, além de tentar lidar com a perda precoce.
Um filme que tem como foco o assassinato de uma criança poderia ser apresentado de diversas maneiras. Normalmente a violência ficaria em evidência. Curiosamente, nesse caso, isso não acontece. Muitos criticam o diretor pela opção de tratar um tema como esse de maneira “leve”, mas, na verdade, esse não é o caso. O que acontece é que o foco da narrativa aqui é o pós-vida, a passagem para um outro lugar depois de deixar o corpo e o mundo para trás. A perda, a dor, a aceitação e o que está relacionado à morte. Há espaço para investigação e uma pitada de narrativa policial, mas esse é o pano de fundo para o que realmente está em pauta aqui. Por isso as cores e a estética “pra cima”.
Os atores apresentam uma química boa e desempenham seus papéis muito bem. Rachel Weisz (A Fonte da Vida) dispensa comentários. Destaque para a protagonista, Saoirse Ronan, que está muito bem. Até Mark Wahlberg – que me impressionou negativamente em Fim dos Tempos - apresenta um bom desempenho. Stanley Tucci, na verdade, aparece um tanto caricato, mas até isso funciona bem dentro da estética adotada. Todas as partes foram estudadas e tudo se encaixa bem no produto final.
As cores do filme merecem um comentário à parte. Azul e amarelo predominam durante toda a projeção e tudo se apresenta através de cores fortes e vibrantes o que ajuda a reforçar o aspecto de fábula, de magia contribuindo, assim, para a quebra do tema pesado.
O filme utiliza vários recursos visuais para representar o firmamento e o céu de Susie. São efeitos bem elaborados e, muitas vezes, psicodélicos o que casam perfeitamente com a época em que Um Olhar do paraíso se passa, década de 70. A direção de arte, inclusive, marca presença através de roupas, cenários e detalhes que compõem um ambiente convincente, esteticamente interessante e coerente.
Emociona e faz pensar.

O pessoal do Omelete tem uma opinião diferente da minha. Para conferir é só dar uma olhada no site que aprsenta, inclusive, uma entrevista com dois atores do elenco: Susan Sarandon (que eu adoro) e Stanley Tucci. Entrevistas essas que seguem abaixo:

* Susan Sarandon:

Estou cobrindo para um site no Brasil chamado Omelete. Então a grande pergunta é: você já esteve por lá?
Eu já fui a Manaus, ao Hotel Ariau. Eu fui com alguns cientistas e eu vi os macacos que estavam sendo salvos e fui à Mata Atlântica e fiquei lá. Estive também em Olinda, onde fiz um documentário em Olinda para a ONU, como embaixadora da ONU. Então eu passei por São Paulo, mas nunca passei um tempo lá. E também nunca passei um tempo no Rio. Por isso eu devo voltar para as noites mais festivas. Eles me convidaram para o festival recentemente, mas não pude ir porque estava trabalhando - o festival que eles têm em Manaus.

Falando sobre Um Olhar do Paraíso por um segundo. Este não é um filme muito... não quero dizer um filme para cima, mas você tem um personagem muito divertido, contrastando com muitas adversidade e tragédias. Você poderia falar sobre como foi interpretar este personagem?

Eu acho que precisamos dar ao público a permissão de dar uma respirada de vez em quando. Então esse é o meu trabalho, dar-lhes a oportunidade de rir. E eu acho que isso acontece. Mesmo na maior das tragédias há coisas que te fazem dar risada, porque você não pode ficar na fossa o tempo todo. Então a Vó Lynn está lá também para meio que salvar o dia, apesar de ela ser a pessoa mais improvável. Eu acho que ela já fez um trabalho tão ruim com sua própria filha, lá atrás, que quando eles realmente precisam de alguém para manter a casa funcionando ela tenta, mas daquele seu jeito ridículo. E, sabe, entre o cabelo e os cigarros e a bebida e o fato de que ela é tão inapropriada na forma como lida com as coisas, acho que as pessoas gostam dela, porque ela é honesta, em sua própria maneira.

Com certeza. Eu vou tentar te perguntar umas coisas que não te perguntaram hoje.
Tente.

Minha primeira é: como você se envolveu naquele curta digital do Saturday Night Live, "Motherlover"?
Ah, obrigada! Eu fiquei tão orgulhosa que eles me convidaram. Eu estava fazendo uma peça na Broadway e simplesmente recebi uma ligação. Eu não tinha visto "Dick in a box". E perguntei pro meu filho de 17 anos, e ele disse "Ah, mãe 'Dick in a box' é um clássico, você tem que fazer se eles te convidarem". Então eu pedi para ele explicar para mim, porque eu nem tinha o roteiro e tinha que ir naquela noite, depois da minha peça na Broadway, e filmar até a manhã. E eles foram tão queridos, tão talentosos, eu achei que ficou muito bom. Eu não sei porque mas eles me convidaram e eu disse sim. É um clássico.

É um curta muito, muito engraçado. Mudando de assunto, você está filmando, ou talvez até já tenha encerrado, Wall Street 2, com Oliver Stone. Como foi isso e quem você interpreta?
Eu interpreto a mãe do Shia LaBeouf e eu tenho um sotaque de Long Island e foi muito engraçado vivê-la. Eu não entendo muito do resto que está acontecendo e é outro papel pequeno. Mas eu nunca tinha trabalhado com o Oliver antes e fiquei muito feliz que eles me convidaram para fazer esse filme. E eles fizeram a festa de encerramento no meu bar de pingue pongue, Spin, em Nova York e nos divertimos muito.
Você está se preparando para filmar mais alguma coisa agora?
O que eu estou me preparando para fazer? Tenho me concentrado no pingue pongue. Me ofereceram alguns filmes para a primavera, mas isso vai durar até o fim das Festas, e aí... eu não tenho certeza do que vou fazer em seguida, estou tentando tomar essa decisão agora.

Muito obrigado pelo seu tempo.

Quer dizer, eu tenho o negócio do Kevorkian saindo agora. Sabe, eu trabalhei com o Al Pacino em um filme sobre Jack Kevorkian e isso vai sair em seguida, dirigido pelo Barry Levinson.

Eu estou bem ansioso para ver o Al Pacino.


Ele é incrível e parece muito com ele também.

Eu tenho que encerrar com você, muito obrigado. “

* Stanley Tucci:

“Quando Peter Jackson te contactou para este filme, foi um "sim" imediato? Você conhecia o livro?
Eu tinha ouvido falar do livro. Não foi um sim imediato porque eu estava reticente em interpretar um personagem como este. Mas aí, quando li o roteiro, achei que era um roteiro lindo, mas continuei reticente porque eu não gosto de assistir a filmes, ou ler livros, ou assistir a documentários em que crianças são machucadas. Eu não gosto, não consigo lidar com isso. Mas quanto mais eu pensava nisso, mais eu gostava da história, da poesia na história e eu queria trabalhar com Peter e Fran. E eu vi isso como um verdadeiro desafio, como ator.

Você já trabalhou com muitos diretores talentosos. O que faz do Peter Jackson tão especial?
Bom, ele é um visionário, realmente. Ele tem um entendimento e um amor pelo cinema em geral, mas ele tem uma visão muito singular quando faz um filme. É meio inflexível. E ele também vai além, na questão visual de um filme.

Como ele é no set? Ele é o tipo de cineasta que quer fazer - alguns cineastas, como o David Fincher, querem fazer 30, 40, 50 takes. E Clint Eastwood, por exemplo, talvez queira dois. Como ele é no set?
Pete está em algum lugar no meio, sabe? Depende do que você está fazendo. Ele usa muitas câmeras, sabe, talvez mais câmeras que outra pessoa usaria para certas cenas. Então você acaba não fazendo tantostakes, porque já tem vários garantidos logo de cara. Mas ele faz uma quantidade razoável de takes.

Como ator, muitas pessoas falam sobre como o primeiro take é aquele que acham que realmente acertaram. Para outros, leva um tempo. Como você é, como ator?
Depende. Cada personagem é diferente, cada filme é diferente. Depende da montagem, onde estão as câmeras... Não faço ideia.

Obviamente você já está trabalhando há muito tempo em vários projetos diferentes. Quão rápido, quando você está lendo roteiros, você sabe que quer se envolver num projeto?
Às vezes é imediato. Mas isso é bem, bem raro. Porque eles não são sempre tão bem escritos.

Já ouvi essas histórias.

Então você tem meio que sentir, talvez ver se tem uma outra versão em andamento, sabe, algo assim.

Acredito que este filme foi rodado na Pensilvânia?
Foi parcialmente filmado na Pensilvânia, alguns meses, e o resto do tempo na Nova Zelândia.

Você foi para Nova Zelândia e Pensilvânia?
Sim. Filmamos em Norristown, onde a história do livro realmente se passa, que era um subúrbio muito lindo, perto de Filadélfia. E tivemos uma pausa de seis semanas, durante as Festas, e então fomos para Nova Zelândia, fiquei lá durante cinco semanas.

Como é isso, fazer uma pausa no meio da produção, durante seis semanas?
Foi difícil. Eu na verdade nunca tinha feito isso antes. Mas foi meio benvindo também, de certa maneira. Apesar de ser legal simplesmente trabalhar direto, porque aí você pode desapegar de um personagem como este.

Eu soube que você está trabalhando em Burlesque nesse momento?
Ainda não comecei, começo em janeiro.

Você poderia falar um pouco sobre quem você interpreta nesse filme?
Eu interpreto um cara que administra, ajuda a administrar, o clube burlesco com a Cher. Sou o melhor amigo dela, o braço-direito e, sabe, confidente.

Parece interessante.
É, vai ser divertido.

Eu sei que tenho que encerrar com você, então muito obrigado pelo seu tempo, fico realmente grato.
Muito obrigado.“


Agora? Kings of Convenience.

*Peter Jackson e Um Olhar do Paraíso no El País.

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